sexta-feira, 6 de junho de 2008

Sinto vergonha de mim

Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o "eu" feliz a qualquer custo, buscando a tal "felicidade" em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos "floreios" para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre "contestar", voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!


(Cleide Canton)


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"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".


(Rui Barbosa)


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Eu também sinto vergonha de mim!

Sinto vergonha em ver meu povo ser tocado feito gado e utilizado como fantoche nas mãos de embusteiros travestidos de políticos.

Sinto vergonha de ver minha terra - onde não cantam mais os sabiás - ser explorada até a exaustão e entregar suas riquezas a inescrupulosos homens ditos de bem enquanto que, nos grotões maranhenses, seus caboclos recebem a paga miserável de algum bolsa-esmola federal.

Sinto vergonha de ter feito em 1985, quando ainda era um aluno do Marista, campanha política para candidatos que hoje, alcunhados como libertários, exercem o poder em minha terra.

Tenho vergonha dos anos e anos de dominação de apenas uma classe política no comando da terra das palmeiras, mas também me envergonho dos libertadores do meu Maranhão.

Tenho vergonha de todos os dias ler pequenas mentiras contadas de forma imparcial no estado do Maranhão, mas também me envergonho de assistir, por algum mirante, as notícias irradiadas pelas parabólicas difusoras da cidade de São Luís a todos os telespectadores da dita maranhensidade.

Tenho vergonha de tanta coisa mas o que mais me envergonha é ver a hipocrisia dessa gente que decide a nossa sorte em jantares ou em mesas de bares, bebendo doses de whisky em copos de cristal, enquanto que meu povo, preso (nunca liberto) como gado, vive enganado no eterno curral chamado Maranhão.


(José Smith Junior)

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